Sótão

Simon Ludwig Ϟ Telecinese, Teletransporte e Tecnopatia

Aquele sótão trazia antigas lembranças à tona. Coisas realmente antigas e profundas, algumas quase esquecidas.
Lembrei-me daquela tarde cinza e chuvosa de quando eu tinha cinco anos. Meu corpo todo tremia e inclusive batia os dentes. Estava muito frio, afinal, estávamos apenas em março, e o clima de saída de inverno ainda estava forte. E para piorar toda a situação, meu estômago roncava tão alto que eu podia ouvi-lo claramente assim como qualquer um que parasse do meu lado. Naquele momento, Mark saía de dentro do restaurante ao nosso lado, na verdade uma lanchonete com um saco de papel em mãos. Ele parou ao meu lado e estendeu a mão para mim. Venha, ele disse. Vamos, rápido, senão vai molhar o lanche! Segurei a mão dele e saímos correndo sem qualquer rumo. O local que encontramos era ao lado de um sobrado, um espaço abaixo do telhado da casa. Felizmente os donos não estavam em casa e o local em que estávamos não dava para ver da rua se chegassem. Ali mesmo comemos uns lanches simples e quase sem nada, mas enchemos as barrigas.
Andei pelo quarto de braços cruzados, olhando para todos os cantos. Então fui andando de frente para uma estante com alguns pertences ali ainda. O caderno de desenhos de minha mãe, um boné de meu pai à frente de uma foto sua no time de beisebol que jogava com um pequeno troféu dourado ao lado. Mais ao lado, um pouco, apenas um pouco longe, uma foto do casamento dos dois.
Outra lembrança. Agora estávamos entrando no enorme e luxuoso apartamento. Era outubro, no meio do mês. Esta é sua nova casa. Espero que gostem, disse a mulher. Uma mulher bela, ruiva, de cabelos longos e brilhantes. Possuía algumas marcas de expressão, mas nada ruim, assim como seu marido, um homem de cabelos negros com alguns fios já grisalhos. Eu olhava para tudo surpreso com o tamanho das coisas. Tudo já era grande, mas quando se tem cinco anos de idade, o grande simplesmente se torna enorme. Onde é o meu quarto? Perguntei simplesmente. Ele arqueou as sobrancelhas. Lá em cima, apontou para as escadas. Tem uma plaquinha com seu nome. Achamos que seria... Melhor para localizar. E finalizou com um sorriso simples. Eu apenas assenti e comecei a subir as escadas em passos rápidos. Queria conhecer cada canto daquele lugar, detestava-me sentir perdido.
Respirei fundo. Onde vocês estão? Perguntei mentalmente. Eles morreram. Respondeu algo em minha mente. O meu lado realista e direto. Soltei o ar, percebendo que estava segurando o troféu de meu pai em minhas mãos. Coloquei-o no lugar. Minhas mãos deslizaram para outra coisa. Um caderno de desenhos verde, mas ligeiramente cinza pela enorme quantidade de poeira sobre ele. Peguei-o e sentei-me na cama, abrindo para ver os desenhos. Todos feitos por minha mãe adotiva. Ela simplesmente adorava desenhar e pintar. Desenhava tudo o que via com rapidez e precisão notáveis. O primeiro de todos era um beija-flor em seu ninho, observando os ovos com um olhar que eu quase podia chamar de apreensivo e ansioso. É, eles morreram.

Claire Bathke || Oneirocinese
the war within me pulls me under and without you
the fight inside is breaking me again

Meus sonhos estão sendo corrompidos, eu não controlo mais nada, estou enfraquecida, estou inútil e frágil. Não controlo mais nada e meu irmão parece não ligar pra isso, dizendo que é apenas estresse e não algo realmente sério. Mas ele não entende, ele não sabe o quanto isso pode ser grave para mim, ninguém me entende. Ele pode ter começado a gostar desse lugar, mas eu não. Eu não consigo mais ter sonhos lúcidos, não consigo controlar meus sonhos nem de outros, não consigo fazer mais nada. E o pior, talvez seja outra pessoa, outra pessoa controlando meus sonhos. Isso é, extremamente e obviamente, um perigo para mim. Com passos rápidos, fui caminhando para qualquer lugar da Organização, talvez aquele menino que cuida daqui. Admito, não gosto dele e também já tentei entrar nos sonhos dele, mas não sei dizer se foi pela minha fraqueza ou se foi por ele ser muito forte. Talvez ele tenha uma bloqueio na mente muito forte. Passando pelos corredores, vi uma movimentação em uma das portas, o sótão. Já estive ali e ele nem deveria saber, apenas uma garota, acho que de nome Teresa, sabia. Entrando cautelosamente, o vi lá, com uma cara mais pensativa do que nunca. Depois de segundos, ele levantou o olhar para me ver. Desculpe. - disse rapidamente, sacando que não me queria por lá. - Já estou saindo, senhor. Na última palavra, não consegui controlar o sarcasmo.

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the war within me pulls me under and without you
the fight inside is breaking me again

Arqueei uma sobrancelha ao ver ele falando para eu ficar, mas como foi pedido, fiquei ali com ele. Dei um sorrisinho ao ver ele dizendo para não chamá-lo de senhor e com um aceno de mão, respondi: Como quiser, garoto. E depois, meu sorriso foi se dissipando aos poucos por um momento ao ter ouvido sua pergunta, olhando aonde ele ia. Fui até ele e analisei calmamente a prateleira. Em seguida, lancei um olhar curioso para ele. Porque você acha disso? - perguntei. - Não sou eu que me teletransporto aqui, eu apenas cuido dos sonhos. E como finalização, lhe dei uma piscadela. Ou cuidava, não é mesmo? Subitamente, resolvi falar: De qualquer maneira, se entrei ou não entrei aqui, não farei mais isso. - garanti. - E nem poderia fazer tal coisa, não tão longe quanto estarei daqui algumas horas.

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the war within me pulls me under and without you
the fight inside is breaking me again

Estreitando os olhos com a reação dele, dei um meio sorriso. Não se surpreenda. - disse soando ríspida. Sabia que a reação dele não seria boa, mas do que me importava? Era importante para mim quanto para meu irmão, mas agora, tenho minhas dúvidas se ele vai querer ir comigo ou não. Provavelmente, iria me obrigar a ficar. Não se sabe, atualmente. Olha, eu realmente queria ficar aqui, sabe? Relaxar, conhecer outras pessoas como eu, treinar, ficar fortinho e blá blá blá. Mas não é assim, pelo menos não pra mim. - cruzei os braços e dei um leve suspiro, então continuei: - E quer saber? Nunca vai ser. Cedo ou mais tarde eu e meu irmão iriamos sair daqui, pois é, meu irmão não vai ficar aqui sabendo que estou em outro lugar. Ele vai junto comigo. Nem que eu tenha que forçar.

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Claire Bathke ϑϑ Oneirocinese
I'm reaching helpless I descend, you lead me deeper through this maze

Não respondi nada por um bom tempo, encarando-o, deixar ele falar tudo que tinha para falar. Depois, mexi a boca para falar, mas fechei-a logo em seguida. Caçar Caçadores... Seria divertido, eu admito. A vítima agora irá se tonar o assassino agora... Assassino. Eu e meu irmão conhecemos muito bem essa palavra e também sabemos, o significado dela se encaixa no que fizemos. Nunca forçou. - respondi calmamente. - Mas porquê diabos fomos atraídos até aqui? E não me venha com essa indiferença, eu sei que nunca forçou mas ainda nos quer. Agora, com a proposta dos Caçadores era outra coisa. E sobre ter sido atraídos aqui, eu sinceramente não me lembro se já foi falado sobre isso, provavelmente, depois do que ocorreu no primeiro dia, nada mais era importante. Tirando o sangue, claro. Como que se saísse de um transe, olhei incrédula para o garoto. Eu não acredito que ele te disse isso. - respondi surpreendendo a mim mesma. Eu não acredito que ele quer que se repita. Eu não acredito que eu também queria isso.

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Apenas assentia ouvindo tudo o que dizia, mas ainda sim, com a ideia de meu irmão martelando na cabeça. Entendo e não, não me disse. - respondi séria. - E você? Concorda? Provavelmente sim. Olha, eu sei muito bem porque ele teve essa ideia. - disse me afastando aos poucos. - Porque nós já fizemos isso e realmente, não foi algo bom. Agora, não me surpreendia se eles viessem nos procurar, porque obviamente, devem estar sentido falta de um dos Caçadores. Estão vindo nos matar, nos esquartejar e... Bom, nós já sabemos. E se fizermos isso e novo, mil vezes pior pra nós.