:: Prisão de Mark Ludwig ::

Tivera pesadelos durante toda a noite, assim como nas noites anteriores. Fazia já um bom tempo que eu via Seline cortando o pescoço de Mark enquanto eu dormia. E, todas as vezes que acordava depois desse pesadelo, eu ia até a prisão de Mark para ver como ele estava. No fundo, tinha medo que fosse real, e não um sonho. Dessa vez não foi diferente. Estava com uma maçã nas mãos, para ter um pretexto para ir até lá. E, além disso, não havia muita coisa que passasse por entre as grades. Por fim, cheguei naquela prisão, subindo as escadarias que levavam ao quarto andar. A prisão me dava calafrios, e me dava nos nervos não poder controlar vidro. Cheguei ali, já jogando a maçã para ele, visto que estava acordado. Como você está? Perguntei, tentando me lembrar quando fora a última vez que perguntara isso. Provavelmente, alguns minutos antes de dormir. Para a maioria das pessoas, essa era uma pergunta sem importância. Porém, eu sentia que ela era importante. Como eu saberia como estava Mark sem perguntá-la? Sem bem que ele já devia estar cansado de ouvi-la.

Meus poderes eram inúteis, quando o assunto era aquela grade. Minha irmã te ameaça de morte o tempo todo. Falei, distraída. Queria que as paredes não neutralizassem poderes. Depois disso, fiquei em silêncio. Duvidava que ele realmente acreditasse em meus poderes. Quem acreditaria que um caçador, um assassino de todos que tem poderes, tivesse realmente algum poder. Ele provavelmente me odiava, já que eu o havia trazido para cá. Seline que tinha feito tudo, mas eu o carregara. A culpa era minha, tanto quanto era dela. Como, eu me pergunto, eu não fizera nada?

Não tenho como provar. Esse lugar tira meus poderes tanto quanto tira os seus. Dito isso, pensei por alguns minutos. De qualquer jeito, você provavelmente ia achar que é truque. E eu ia me arriscar por nada, porque se alguém me visse usando os poderes, eles teriam um sacrifício duplo. A coisa era mais complicada do que ela pensava. Se eu morresse, ele morreria junto. Era algo muito estranho ter alguém dependendo da minha vida e de meu silêncio.

Teve um tempo que sim. Mas depois fui começando a perceber que a coisa não era bem daquele jeito. Demorou, mas eu perdi o medo do que eu sou. Dei uma pequena pausa. Por isso eu nunca cacei de verdade. Em missões, eu fingia que tinha perdido uma luta. Mas aí me mandaram ir junto com minha irmã para te capturar, e eu não tive o que fazer. Seline fez a maior parte, mas sobrou para mim te carregar. Não dava para sair correndo sem acabar morta, ou pior. Disse, me lembrando de como, mesmo que não tivesse escapatórias, eu havia tentado de todo jeito manter minha irmã longe, mas não conseguira. De como nós havíamos carregado Mark até a prisão, e de como eu menti que ele tinha informações. No fim, tive que inventar milhões de mentiras para te manter vivo, porque minha irmã descobriu tudo sobre minha possível fuga. Roubou a chave da cela, passou a te ameaçar. Fiquei um tempo em silêncio. Talvez ele não percebesse como a coisa era realmente grave. Se eu fizesse alguma besteira, provavelmente ele seria morto antes de mim, e depois, minha família sairia do palácio. E depois eu seria morta. Isso se eles não morressem também. E isso ainda aumentaria ainda mais a tensão entre Poderosos e Caçadores, e até mesmo dentro do próprio sítio. Porque, se um de nós é um traidor, qualquer um pode ser. Podia até mesmo imaginar alguns que seriam mortos, suspeitos de traição. Apenas uma leve suspeita já poderia causar a morte. O que acontece comigo e com Mark determinaria o futuro tanto dos Caçadores quanto dos Poderosos. Há coisas demais em jogo aqui. Falei, mais baixo, distraidamente, mais para mim mesma do que para ele.